segunda-feira, 1 de julho de 2013

MUTAÇÕES: A ARTE INTENSA DE NILVA ROSSI





            As obras de Nilva Rossi pedem uma contemplação atenta e silenciosa. Essa contemplação é necessária para a completa fruição de detalhes que a artista, consciente ou inconscientemente, nos apresenta. Dessa forma, é possível perceber várias camadas de matéria que a artista aplicou sobre as telas. Assim, ela nos apresenta primeiramente um processo, palavra que usamos no sentido de ação, sequência ou método. Nessa sequência de operações artísticas, percebemos camadas de crayon, grafite, tinta, giz para quadro negro, carvão, etc. Nilva enfatiza, nesse caso, a possibilidade imanente da arte, ou seja, a possibilidade da arte como experiência contínua com vários suportes e materiais. A artista procurou experimentar tudo, pois segundo suas palavras, “a arte permite uma busca constante, já que só a vida não basta”.  Por isto, seu processo criativo é “agradável” (segundo ainda seu relato), mas podemos chamá-lo, ao mesmo tempo, de catártico, com a arte servindo como antídoto contra as dificuldades da vida. A arte, então, possuiria um efeito purificador ou mesmo libertário. Esta palavra, “purificação”, é cara à artista, como veremos. Talvez estas questões tenham despertado na artista a vontade de chamar esta série de Mutações, palavra que lembra mudança, alteração, modificação. O elemento-chave que provoca mutações é a água.                                                                                                                                                        No processo de criação de Nilva Rossi, portanto, a água e o acaso possuem papeis fundamentais. Desse modo, em seu trabalho, a água é preponderante e tem um duplo objetivo: artístico e simbólico. Ao misturar-se com outros materiais, como o carvão, por exemplo, faz surgir imagens que provocam surpresas dignas de atenção. A quantidade de água, controlada ou aleatória, faz aflorar as imagens. Daí o acaso. A água ainda permite à artista pesquisar a consistência dos materiais. Quando ela seca, as marcas transparentes possibilitam a percepção das inúmeras camadas trabalhadas pela artista.
            Assim, a água é o amálgama que permite à artista juntar todos os elementos simbólicos que surgem aos nossos olhos. A água tem um papel purificador, “como se lavasse minha alma”, diz a artista. As cores que surgem “parecem explosões vulcânicas”, ainda segundo a artista. Esse processo sem fim (no qual temos a impressão de ter sido difícil para a artista pôr um ponto final), afirma o caráter catártico que percebemos nesta série. O trabalho de Nilva é surpreendentemente catártico e lúdico, ao mesmo tempo. Por isso, deve ter sido “agradável” para a artista criar essa série de obras.
Entretanto, para além de todos estes aspectos analisados, nem tudo está limitado à quantidade de matéria que se estende sobre as telas, nem à sobreposição quase infinita dessa mesma matéria. Nilva Rossi deixa, propositadamente, partes em branco, como aberturas ou portas. Esta metáfora é ainda mais potente, pois nos remete a espaços livres, desprotegidos, desnudos. A artista talvez queira mostrar que sua obra é uma “obra aberta”, que nos convida a entrar.
João Coviello.

Local: MUSEU ALFREDO ANDERSEN-R:MATEUS LEME,336-CURITIBA/PR

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