Marco Nanini, 60 anos de carreira, uma imensidade de papéis nas costas, senta no sofá do Hotel Mabu para dar uma entrevista apenas algumas horas depois de sua primeira apresentação na Mostra Lucia Camargo,com a peça “Traidor”.
Usando chapéu e um moletom no Snoopy, vai logo falando: “A noite ontem foi maravilhosa. Não que isso tenha me surpreendido, porque sei que o público aqui é muito bom. E o Guaíra, eu adoro aquele teatro”, elogiou. “Curitiba é uma cidade que lida bem com a cultura, apoia a cultura, gosta de cultura”.
“Eu já participei muitas vezes do Festival de Curitiba e fico muito feliz de ele existir há 32 anos. E também ser o maior da América Latina”, disse. “Eu estava olhando o Guia e a quantidade de espetáculos que o Festival traz pra cá é realmente uma coisa única.
A cidade de Curitiba, aparentemente, também gosta de Marco Nanini. Por isso, os curitibanos abarrotaram os mais de dois mil lugares do Guairão numa noite sexta-feira pra assistir a um espetáculo que não é, digamos, convencional – se alguém esperava ver no palco algo próximo de Lineu Silva, o pai cuidadoso, marido certinho e incorruptível agente sanitário da sitcom “A Grande Família”, deu com os burros n’água. “A peça não é um roteiro com início, meio e fim. Ela é composta por fragmentos, alucinações do personagem. Tudo muito rápido”, explica.
“O Gerald Thomas [autor e diretor] diz que o protagonista é um ator perdido numa ilha, rememorando todos os personagens que fez na vida. Eu acho que é apenas uma criatura, lá se remoendo. É muito solitário.”
Mesmo assim, quando a peça terminou, na saída do teatro, não se via um único semblante desgostoso. Um reconhecimento aos esforços de Marco Nanini. “É um personagem complicado de fazer. É muito puxado, mentalmente. O personagem diz muitas coisas, eu fico cansado”, conta.
A propósito, o protagonista de “Traidor” carrega o mesmo nome do ator: Nanini. “Mas não tem nada ver comigo”, se desvencilha. “Embora eu tenha ajudado a escrever o texto. Dava muito palpite, o Gerald aceitava.”
Nanini, o personagem, também ajudou Nanini, o ator. “Eu gosto muito dele, porque tirou de mim um pouco a imagem do Lineu, que ficou cravada na cabeça das pessoas”, ri. “É claro que é um prazer ter feito um personagem tão popular, mas é também um peso.”
Nada mais apropriado ao ator, que tem como marca a diversidade de papéis que escolheu fazer ao longo de seis décadas. “Eu nunca quis ser um ator só de chanchada, por exemplo. Mas queria fazer chanchada também. E textos clássicos. Eu planejei essa diversidade.”
E, pra não perder a viagem, é preciso dizer que essa prolífica carreira está agora registrada nas cerca de 300 páginas de “O Avesso do Bordado”, biografia de Marco Nanini escrita pela jornalista Mariana Filgueiras, lançada recentemente (inclusive, com uma sessão de autógrafos no Festival de Curitiba). “Eu gostei muito do jeito que a Mariana escreveu. Ela é muito cuidadosa, muito competente. Fez quatro anos de pesquisa. Tem coisa lá que nem eu lembrava”, brinca.
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