sábado, 2 de agosto de 2014

MARAT-SADE, UMA OBRA ÍMPAR NA HISTÓRIA DO TEATRO


Em “A Perseguição e Assassinato de Jean-Paul Marat (Marat-Sade)” está em questão o processo revolucionário de 1789, representado em meio à tragédia das guerras napoleônicas. Um hospício é subitamente transformado em palco do confronto de perspectivas diversas frente a um dos momentos mais significativos da história moderna: a Revolução Francesa e suas consequências. Palco, ainda, de uma discussão que se mantém viva e presente, a cada momento, em nosso próprio tempo.
Marquês de Sade, que esteve internado de 1801 a 1814, no manicômio de Charenton, acusado de excessos sexuais, chegou realmente a dirigir o grupo de teatro daquela instituição, composto por doentes de vários tipos. Jean-Paul Marat, médico conhecido, contemporâneo de Sade, por sua vez vivia escondido nos esgotos de Paris, desde sua decisão de renunciar a seus privilégios e lutar pela revolução, onde contraiu uma terrível dermatose, que o obrigava a ficar com o corpo imerso em água.
Sobre essa base, Peter Weiss concebe sua fábula: no ano de 1808, quinze anos após a morte de Marat, o senhor de Sade cria e dirige uma peça que retrata o final da vida do revolucionário. 
São personagens da peça de Sade: Marat (revolucionário), preso à sua banheira, preocupado com os destinos da revolução que considera inacabada; sua companheira Simone Evrard, constantemente ocupada em aliviar e proteger o doente; o padre revolucionário Jacques Roux, a instigar Marat com suas ideias extremistas; Duperret, deputado girondino, adepto de concepções reacionárias sobre a nova ordem social; Charlotte Corday (imobilista), a suave assassina de Marat, que retira coragem para seu ato do ultraje que as teses de Marat representariam para seus ideais de liberdade, igualdade e fraternidade; os Quatro Cantores que animam o espetáculo, intervindo como narradores ou comentaristas; o Anunciador que, prudente e perspicaz, apresenta os atores e introduz as cenas e todos os outros loucos – o povo que observa, questiona, ataca ou louva os personagens. Marquês de Sade (liberal), como diretor e autor da peça teatral, também intervém, contrapondo-se a Marat e a suas concepções.
O local da representação é a sala de banhos do hospício, onde se realizam os modernos tratamentos em hidroterapia, verdadeiro cartão de visitas da instituição, orgulho do senhor Coulmier (conservador), diretor do manicômio. Dizendo-se humanista e essencialmente um homem moderno, o senhor Coulmier mostra-se interessado em fazer valer para seus doentes todas as prerrogativas dos cidadãos, inclusive os direitos humanos. Assistindo à peça, o diretor dirige-se a seus convidados pedindo respeito para com os internos e só intervém quando julga a ação pouco “saudável” ou subversiva em relação à ordem instituída.
Utilizando o teatro dentro do teatro (metateatro), Peter Weiss cria esta obra épica-dialética, pondo em ação um dos mais valiosos recursos de distanciamento.. A um só tempo, desenvolvem-se e sobrepõem-se três tempos: trata-se da encenação de fatos ocorridos em 1793, montada por Sade com as informações de que dispunha em 1808, e apresentada hoje.
Nós – o público atual – vivemos também uma situação dupla: somos igualmente espectadores da peça de Weiss e da peça de Sade, realizada em Charenton e patrocinada pelo senhor Coulmier. Somos, portanto, convidados do diretor do manicômio, cidadãos de bem, reconhecidos pela sociedade.
Estamos frente a um debate que exige nosso posicionamento.

Texto: Peter Weiss
Música: Hans-Martin Majewski
Tradução: João Marschner.
Adaptação Musical para o português: Lester Baldini
Direção Musical: Hermes Adriano Drechsel
Preparação do Coro: Felipe Biesek
Menção Especial: Maestro Álvaro Nadolny
Direção Geral: Jul Leardini

ELENCO
Dimas Bueno - Jean-Paul Marat
Gerson Delliano - Marquês de Sade
Sérgio Silva - Padre Roux
Moa Leal - Anunciador
Anisha Zevallos - Charlotte Corday
Gabriel Gorosito - Duperret
Hique Veiga - Coulmier
Ana Paula Taques - Simonne Evrard
Vitória Lins - Louca
Loana Terra - Freira
Luciana Melo - Freira
Marcelo Carvalho - Enfermeiro
Jorge Lazzaris - Enfermeiro

MÚSICOS
Sarah Roeder Drechsel - Rossignol (mezzo-soprano)
Brahmarsi Das - Cucurucu (tenor e percussão)
Lester Baldini - Polpoch (barítono)
Andre Pottes - Kokol (baixo)
Marília Pereira - Louca (soprano)
Lelo Jobim - Louco (tenor)
Matheo Roeder - Louco (barítono)
Gabriel Bin - Louco (baixo, violão e percussão)
Hermes Adriano Drechsel - Louco (teclados)
Felipe Biesek - Louco (flauta, percussão)

STAFF TÉCNICO E ARTÍSTICO
Produção Executiva, Coordenação Geral e Captação de Recursos: Salete Cercal
Direção de Produção: Geni Cruz
Iluminação: Rodrigo Ziolkowski
Figurino: Tri Almeida 
Maquiagem: Françoise Bianchi
Cenografia, Sonoplastia e Imagens: Jul Leardini
Esculturas de cabeças: Laércio Leardini
Programação Visual: Maurício Correa
Assistente de Ensaio: Brunno Mantiqueira
Construção de cenário e móveis: Atelier Pirosin
Cenotécnicos: Jota M 
Produção: Ditirambo Eventos Culturais
Realização: GE’BRECHT – Grupo de Estudos Brecthianos 
ÊXEDRA - Pesquisa e Experimentação Teatral


Peça teatral musical de Peter Weiss, com direção geral de Jul Leardini - Uma das principais peças de teatro do século XX.
Teatro da Reitoria da UFPR - 30 e 31/07 e 02 a 10/08/2014 - 20h30 - No dia 10/08 haverá sessão extra às 16 horas.

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