quarta-feira, 27 de julho de 2022

Casa Poppins se torna franquia para Mulheres

 



A Casa Poppins se tornou uma franquia e o contrato da segunda unidade da rede já está fechado; novos gestores assumem no dia 31 de julho

A empresária Nany Semicek entrega as chaves do seu quintal mágico, a Casa Poppins do Ahú, para as novas franqueadas da marca:  Anna Luiza Picanço e Stephany Justus de Jesus – mamães Poppins de longa data. No momento, as três trabalham na transição para a passagem do bastão. A equipe de brincantes, tão estimada pelos pequenitos, como são chamados no espaço de brincar, permanecerá a mesma.

As novas donas assumem a gestão oficialmente no dia 31 de julho, numa festa reservada para as famílias Poppins e convidados no próprio estabelecimento. Anna e Stephany serão coroadas com uma missão nobre que é dar continuidade à filosofia da Poppins: proporcionar para os pequenos uma infância sem consumismo e com intimidade com a natureza. Nany esteve à frente da Casa Poppins Ahú por seis anos e foi pioneira na implementação do método de Infância Natural Poppins, criado por ela.

O legado que Nany deixa para os novos gestores do espaço de brincar é que a criança é sua própria grande mestra e é capaz de ser autônoma no seu desenvolvimento, através do “Brincar Livre”.

A unidade do Ahú é a segunda franquia comercializada pela empresária. A primeira abriu as portas em janeiro, na AABB, no bairro Tarumã. A terceira já está sendo negociada e deve ser inaugurada em breve.

A transformação da marca em uma rede de franquias é a expansão do sonho de Nany: proporcionar uma infância livre para a nova geração de crianças curitibanas. “Eu quero espalhar meus quintais mágicos para outros bairros”, afirma a empresária.

Modelo de franquias

Foi um pouco antes da pandemia que Nany percebeu que o sonho dela encantou outras famílias que passaram a desejar ter um quintal para chamar de seu. A empresária enxergou no modelo de franquias uma oportunidade para começar um novo negócio e, ao mesmo tempo, um novo projeto de vida.

Uma das coisas que observamos é que as mães e até pessoas aleatórias diziam que era um sonho ter um espaço como a Poppins, mas não sabiam como começar. Muitas vezes eram professoras, que são apaixonadas pela infância, mas temiam empreender sem apoio”, aponta Nany.

A empresária acrescenta que analisou os espaços com propostas semelhantes. Eram, geralmente, abertos por educadores e apenas o viés pedagógico não conseguia sustentar o negócio. “A Poppins deu certo porque tomei decisões estratégicas, inclusive na pandemia. Por isso, entendemos que abrir franquias é uma oportunidade para compartilhar nosso know how de gestão e ajudar outras pessoas a abrirem seus próprios quintais”, salienta Nany.

A empresária estabelece uma condição para quem quiser se tornar um franqueador: precisa conhecer de perto o universo infantil e se identificar com o estilo Poppins de viver: com liberdade, criatividade e perto da natureza.

A história de uma campeã de bilheteria

Na produção cinematográfica da Walt Disney, Mary Poppins era uma babá mágica que ensinava lições valiosas para as crianças da família Banks, que vivia em Londres. Bem distante das telas do cinema, no Brasil, mais especificamente em Curitiba, a empresária Nany Semicek construiu um quintal cheio de magia e se tornou, na prática, uma encantadora de crianças, como a personagem da ficção que inspirou o nome do seu empreendimento: a Casa Poppins.

A inspiração na arte é fruto da veia artística da empresária é aguçada. Ela é atriz e diretora teatral de formação - estudou na antiga Faculdade de Artes do Paraná, hoje Unespar - e foi coordenadora executiva do Festival de Teatro de Curitiba nos anos 2000. Em São Paulo, foi Diretora de Cultura.

 A intimidade com o mundo artístico abriu as portas de outro universo, quiçá mais complexo: o corporativo. Nany construiu uma carreira brilhante na maior player de venda de ingressos do país, onde foi a única diretora mulher ao lado de oito homens.

Teve sua primeira filha, Helena, hoje com 11 anos, no papel de executiva. E foi quando a maternidade bateu na porta de Nany que começaram os conflitos existenciais, comuns à grande maioria de mulheres bem-sucedidas que se deparam com a responsabilidade de gestar e criar um filho. “A minha geração de mulheres estava despreparada para ser mãe. A gente não foi educado para criar ninho; a gente foi educado para ser profissional de sucesso, que era aquilo que nossas mães não conseguiram conquistar e projetavam em nós. Eu entrei na maternidade achando que ia poder terceirizar tudo e me deparei com o maior desafio da minha vida até então”, conta a empresária.

Resgate

A infância de Helena na selva de pedras aumentou as crises de Nany. Profissionalmente, ela já tinha provado para todos que era capaz e que as mulheres podem sim alcançar cargos de chefia em grandes companhias. Mas e agora José? Tinha uma criança trancada em casa, presa no concreto da metrópole, no meio do caminho. Eis o novo desafio da executiva: como proporcionar uma infância saudável, genuína e feliz para sua filha? Incansável no papel de mãe, comprou até um sítio para levar a filha para perto da natureza.

Foi Helena que promoveu o encontro de Nany com a menina que ela mesma foi: aprendeu muitas coisas sozinha, como as crianças da sua geração, com os pés ora na terra, ora no tronco das árvores. Tirava leite das vacas e alimentava os porcos, como tantos filhos que nasceram em famílias humildes e no ambiente rural.

Ao analisar seu passado, Nany chegou à conclusão de que sua história de vida estava intimamente ligada à sua resiliência, que teve origem lá na vida simples no interior. As habilidades desenvolvidas por ela vinham da sua infância livre, já que não tinha condições financeiras de fazer um grande curso ou faculdade.

Helena despertou na mãe a importância do livre brincar para a formação, que vai além do conhecimento intelectual. “Ficou nítido para mim que eu desenvolvi essas habilidades na minha infância. E não foi porque minha mãe era uma estudiosa, uma educadora parental, como vemos hoje. Era porque ela estava ocupada com afazeres domésticos e nos dava o privilégio de ser livre em um quintal, com mil possibilidades de criar”, diz.

E foi esse dilema que plantou em Nany a primeira sementinha para mudar de vida. E a gravidez do segundo filho, Antonio, hoje com seis anos, a encorajou a largar uma carreira executiva de alto escalão, um salário alto e uma vida confortável e previsível, pelo desconhecido. Empreender é navegar num mar revolto: ela já sabia. Mas dentro de si, carregava uma única certeza: queria ver os filhos crescerem livres, perto dela e da outra mãe, a natureza.

O recomeço

Na licença maternidade, com o recém-nascido nos braços, Nany pediu demissão da empresa e mudou-se para Curitiba, onde morava sua família. A pulga atrás da orelha a fazia viver em um estado permanente de desassossego. De alguma forma, precisava encontrar uma solução para maternar, proporcionar uma infância livre para os pequenos e ainda prover o lar.

No entanto, como diz a literatura sobre a criatividade, é o repertório que as pessoas carregam em sua bagagem que permitem e que provocam os insights. Sócia do Clube Urca, um dia Nany enxergou num fundo de vale abandonado uma semelhança com seu habite natural, com a vida no interior do Paraná na infância. Ousada e destemida, como a criança que ela foi um dia e que a levou para um cargo de alto escalão, fez uma proposta para o clube para alugar o espaço.

O aceite foi o primeiro grande passo para a construção do seu próprio quintal. E foram as economias oriundas da carreira de executiva que a ajudaram a entrar em cartaz mais uma vez, agora como empreendedora.

Proposta de valor

A Casa Poppins foi idealizada por Nany em 2016 para ser um espaço compartilhado: um quintal para as crianças, que seriam monitoradas por educadoras brincantes e um cooworking para mamães. “Meu sonho era unir o útil ao agradável: proporcionar uma infância natural para os pequenos e deixar o coração das mães quentinho, trabalhando pertinho dos filhos, olhando pela janela os vendo brincar na areia e em meio as árvores, num grande quintal, na companhia de outras crianças”, recorda Nany.

Mas as famílias de Curitiba não entenderam de imediato a proposta da empresária, que passou meses a fio pagando aluguel para o clube de um espaço vazio. A resiliência de Nany falou mais alto e ela bancou seu sonho com a certeza de que seu negócio tinha um futuro promissor.

Foi apenas quando as férias escolares chegaram que a Casa Poppins recebeu os primeiros clientes para a colônia de férias. E foram os pequenos que se apaixonaram pelo espaço e quiserem estar ali o ano inteiro, não apenas no recesso escolar. “Quando as crianças voltaram para casa, diziam que era o melhor lugar do mundo. Então a gente cresceu com o boca-a-boca das crianças”, conta Nany.

A Casa Poppins tinha um gostinho de casa de vó. E as mamães e papais contavam com a facilidade de comparem pacotes para usarem quando achassem melhor, por turnos, em determinados dias da semana ou pagar pelas horas que precisassem que seus filhos permanecessem ali.

A vivência com crianças de todas as ideias, na visão de Nany, contribui com a formação dos pequenos. “Isso traz riqueza, pluralidade para a nossa vida. Há uma demanda também de criança que não tem irmão. E a casa Poppins foi criada também pensando nas mães que não podem estar com suas crianças, mas que querem ofertar uma infância como a de antigamente, com liberdade”, detalha a empresária.

A criatividade sempre foi estimulada no espaço de brincar e é a linha mestra do projeto pedagógico. “Desenvolvemos um método de kits criativos, a partir de materiais recicláveis, com os quais pode-se montar 43 brinquedos. Se a criança virar e falar 'quero fazer um avião' e a educadora brincante tiver que ir atrás de papelão, tesoura, cola, vai perder o momento da magia. O kit permite isso. Daí que vem a magia, ter tudo pronto, como a Mary Poppins”, recorda Nany.

Pandemia

A medida de isolamento social custou caro para escolas e para a Casa Poppins, que teve que fechar as portas de forma compulsória.

Mais uma vez a resiliência de Nany foi colocada à prova e o espaço de brincar resistiu, apesar das demissões necessárias. Eram 7 educadoras brincantes e 50 contratos que sustentavam o negócio que ia de vento em popa quando a Covid-19 virou o mundo todo de pernas para o ar.

No começo de abril de 2020, a Casa Poppins se transformou numa loja virtual para vender os kits criativos e festas virtuais para levar a magia para dentro de casa. E foram os produtos confeccionados com sucata que ajudaram a manter a empresa quando o mundo todo foi assolado por uma crise sanitária que refletiu na economia.

O apoio das famílias também foi fundamental. Alguns continuaram pagando as mensalidades, como forma de garantir vaga no espaço de que tanto gostavam. O Urca não cobrou o aluguel e outros fornecedores suspenderam cobranças regulares.  Os próprios pais promoveram rifas para ajudar a quitar as despesas fixas.

Foi neste momento que Nany percebeu que a Casa Poppins não era mais uma marca dela, mas que seu espaço de brincar era reverenciado pela sociedade civil organizada curitibana. “Houve uma luta para que continuássemos abertos. As pessoas queriam que quando tudo isso passasse, as crianças tivessem seu porto seguro, sua casa de vó institucionalizada para voltar”, reflete Nany.

Depois da tempestade, veio a calmaria. E todo o afeto que a empresária e sua equipe deram para as crianças retornaram para ela, como num movimento sincronizado do universo. Era chegada a hora de dar mais um passo: transformar a Casa Poppins em uma franquia, um projeto que a empresária já vislumbrava quando a pandemia colocou um freio nos seus sonhos. Incansável e obstinada, Nany entra em cena novamente: agora atua como a protagonista, a guardiã da magia que ela criou.

Para ela, a posição de franqueadora é mais um reencontro consigo mesma. “É o fechamento de um ciclo. Estou fazendo as pazes com a executiva, a estrategista, que também existe dentro de mim. É a união da menina sonhadora e livre do interior com a empresária. Esse é meu novo papel. Estou no palco mais uma vez”, conclui. 

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